O câncer de colo do útero é o segundo com maior incidência na população feminina brasileira, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Quando diagnosticada precocemente, a doença tem praticamente 100% de possibilidade de cura. Mesmo assim, ela é responsável pelas mortes de 275 mil mulheres por ano, em todo o mundo. A principal razão pelos elevados índices de mortalidade é a baixa adesão ao Papanicolau, exame para diagnóstico deste tipo de câncer.
Em trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família (CEESF), apresentado em fevereiro deste ano, a enfermeira Mireili Pazinato desenvolveu proposta de intervenção para ajudar os enfermeiros do município de
Resplendor, no interior do estado de Minas Gerais, no controle e prevenção do câncer de colo do útero.
Para evitar o diagnóstico da doença em estágios já avançados, ações preventivas consideraram os fatores culturais, econômicos e comportamentais das mulheres do município. As ações iniciaram em 2011, época em que o estudo começou a ser desenvolvido. “A proposta foi de orientar mulheres com 25 anos ou mais quanto à importância da prevenção da doença através de ações educativas”, conta a pesquisadora.
Medidas
Dentre os fatores que dificultam o diagnóstico precoce estão inibição, vergonha, medo da dor, falta de tempo e dificuldade de acesso à unidade de saúde. “Muitas mulheres têm a visão de que o exame dói. Outras são até impedidas pelo marido, que não aceitam que elas façam o exame”, exemplifica Mireili.
A realização de palestras educativas periódicas foi uma das medidas adotadas no distrito de Resplendor para aumentar a adesão das mulheres. Mireili explica que, nos encontros, as mulheres e seus maridos podem esclarecer dúvidas, além de terem contato com o aparelho usado na coleta. “Como a falta de informações e o preconceito são empecilhos para o exame de rotina, as palestras são fundamentais para a adesão das mulheres”, reforça.
O exame também passou a ser oferecido em período noturno, para atender as mulheres que trabalham o dia todo. Outra ação em execução é o rastreamento de mulheres que estão na faixa etária de risco. “Vamos às casas dessas mulheres e fazemos convocações para que façam o exame”, relata a enfermeira.
O vínculo entre as usuárias do SUS e os enfermeiros também contribui para a maior adesão ao Papanicolau. “A unidade de saúde tinha grande rotatividade de enfermeiros. Depois de concurso para efetivação dos profissionais, eles permanecem por mais tempo na unidade. Assim, conseguem estabelecer uma relação de confiança com as usuárias”, explica.
Resultados
A enfermeira conta que, antes das intervenções serem iniciadas, somente 12 exames de Papanicolau eram realizados por mês na unidade de saúde do município. Com as ações educativas em andamento, os números subiram para 50. “A adesão é muito grande. Quem colheu uma vez, retorna depois”, diz.
Os resultados do estudo também contribuíram para mudanças na dinâmica do atendimento da unidade básica de saúde de Resplendor. “Para o diagnóstico do câncer de mama, os enfermeiros examinam as mamas e solicitam mamografia de todas as mulheres acima de 40 anos”, informa Mireili.
Ela acrescenta que as intervenções são constantemente avaliadas e aprimoradas. O objetivo é que outras unidades também possam aplicar as ações em suas regiões. “Muitos médicos do Programa Saúde da Família também passaram pelo Nescon, o que contribuiu para o sucesso das ações. Temos uma agenda bem organizada para atender todo mundo”, avalia Mireili Pazinato, que reforça a importância do CEESF no desenvolvimento de pesquisas que podem ser aplicadas no cotidiano dos profissionais de saúde.
Título: Plano de intervenção para atuação da equipe de enfermagem da ESF no controle e prevenção do câncer do colo de útero
Nível: Trabalho de conclusão de curso (TCC)
Autora: Mireili Pazinato
Orientadora: Ivana Montandon Soares Aleixo.