Nescon é o primeiro da série de reportagens “Janelas: da Universidade para a comunidade”, do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.
Atuar como médico nas cidades do interior, especialmente as mais remotas e com baixa assistência em saúde, exige preparo dos profissionais, que irão lidar com as particularidades da realidade local. Para isso, precisam entender bem o funcionamento do sistema público de saúde pelo qual atuarão. E essa é uma das especialidades do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade Medicina da UFMG, responsável por qualificar e preparar médicos do Programa Mais Médicos Para o Brasil.
O Nescon é um órgão complementar da Instituição, que completa 36 anos com contribuições importantes para a saúde pública no país. Desde o início, o órgão atua com a qualificação de diferentes profissionais de saúde, além de desenvolver ferramentas inovadoras de ensino e pesquisa.
Para o Programa Mais Médicos, o Nescon oferta a especialização em Atenção Básica em diferentes estados: Minas Gerais, Acre, Alagoas e Pará. Somente no estado mineiro, o Núcleo atende 11% dos profissionais do Programa, que conta com cerca de 18 mil médicos em todo o país.
“Iniciamos a especialização, como parte da Rede UNA-SUS, ainda quando era o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), onde participavam médicos, dentistas e enfermeiros. Depois viram a necessidade de focar no médico e passou, então, a se chamar Programa Mais Médicos Para o Brasil”, conta o vice-diretor do Núcleo, Edison Corrêa.
O curso é composto por disciplinas obrigatórias e o aprofundamento em outros três assuntos. Desses, os participantes selecionam um para ser o objeto de estudo do trabalho final. “Para o médico, é importante porque ele vai ver uma série de problemas e dificuldades na sua localidade e vai selecionar esses problemas. A gente usa uma metodologia que chamamos de planejamento estratégico situacional. Isto é, ele parte de uma situação real e concreta e faz uma proposta sobre como seria melhor resolver aquele problema”, esclarece Edson.
Mais de 5 mil trabalhos publicados
Entre os trabalhos de conclusão de curso publicados pelo Nescon, está o do médico e ex-aluno do Nescon, Carlos Yohan. Ele concluiu o Curso de Especialização Gestão do Cuidado em Saúde da Família, em que produziu uma proposta de intervenção para o problema de hipertensão em Belo Horizonte. Carlos é um médico cubano, que veio para o Brasil na expansão do Programa Mais Médicos e acabou ficando no país. Ele acredita que o curso foi importante para que pudesse conhecer a população, identificar os problemas e fazer estratégias para melhorar a situação de saúde. “Eu conheço muita coisa do sistema de saúde do meu país, mas ao ver quais eram os problemas aqui, na minha área de abrangência, eu me surpreendi. O curso me ajudou muito a ter um enfoque nisso, com objetivos precisos, para que o trabalho pudesse dar resultado”, afirma o médico.
10 mil profissionais realizaram qualificações
Mas não são apenas os médicos que podem se aperfeiçoar com os cursos do Nescon. Dentistas, enfermeiros, farmacêuticos, pedagogos, educadores físicos e demais profissionais que atuam na Atenção Básica também podem participar de cursos abertos e na modalidade à distância. Atualmente, 14 são ofertados de forma contínua, sendo dois de aperfeiçoamento e o restante de atualização. Em 2018, mais de 10 mil profissionais de saúde foram certificados por esses cursos.
“Na maioria das vezes, os cursos são uma solicitação do Ministério da Saúde, a partir de determinadas demandas do país. Por exemplo, eles nos pediram para dar um curso online sobre Oftalmologia na Atenção Básica, que é uma área bastante carente, em que as pessoas têm mais dificuldades”, exemplifica o vice-diretor do Nescon, Edison Corrêa.
Mais de 4 mil certificados em especializações
Além dos cursos abertos, o Núcleo atua com especializações na área de saúde coletiva e da família, em que os participantes constroem propostas de intervenções nos locais em que atuam. O vice-diretor do Nescon explica que essa oferta é feita em conjunto com as prefeituras dos municípios e o Ministério da Saúde, o principal financiador do Núcleo.
Para a médica Mariângela Rocha, que foi aluna do curso de especialização em Saúde da Família, o material utilizado é bem didático. “O curso foi meu norteador como profissional, porque eu não tinha noção do que era saúde da família e foi essa especialização que me apresentou isso”, relata.
Mariângela acredita que a qualificação em Atenção Primária tem impacto até nos gastos com saúde pública. “Se o profissional não sabe como estruturar e organizar o atendimento, leva à sobrecarga da Atenção Secundária, aumentando o custo com medicamentos e superlotação da emergência”, afirma.
Atualmente, mais de mil profissionais atuam na Atenção Básica e realizam, ao mesmo tempo, a especialização. “Para a Universidade, tem sido importante para o desenvolvimento de tecnologia e de conhecimento”, avalia Edson Corrêa.
213 artigos publicados
Todo o material produzido para os cursos do Nescon estão disponíveis na Biblioteca Virtual. “Qualquer pessoa pode acessar, estudar e utilizar o material que tem direitos autorais livres”, ressalta o vice-diretor do Núcleo. De acordo com ele, o material é referência, inclusive, para outras universidades. “Nós temos 35 vídeos produzidos e publicados. Temos um projeto patenteado, que é o genograma, que está sendo usado no curso de psicologia da PUC como material de rotina”, completa.
O genograma eletrônico é uma ferramenta do projeto Álbum de Família, utilizada para desenvolver, através de símbolos convencionados, o retrato gráfico do padrão de relacionamentos familiares para a compreensão da estrutura familiar.
Pesquisa
Embora a história do Nescon se relacione mais fortemente à formação de recursos humanos, o Núcleo também tem como braço o desenvolvimento de pesquisas. Uma delas é a do Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde (GPES), que desenvolveu uma plataforma que estima necessidades da população para cobertura mais eficiente em saúde.
Outra linha de pesquisa é a do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (Pmaq), do Ministério da Saúde, que avalia toda a rede de atenção primária no Brasil. O Nescon é um dos parceiros do programa, responsável pela avaliação do sistema de saúde, nos estados de Minas Gerais, Acre, Rondônia e São Paulo.
Segundo o professor colaborador do núcleo e coordenador do Pmaq, Antônio Thomaz Machado, o Nescon também utiliza os dados levantados no programa em pesquisas que avaliam as ferramentas que podem ser usadas para melhoria do sistema e servir de subsídio para políticas públicas, já que as informações são disponibilizadas para os municípios avaliados. “É possível observar a nível nacional, por exemplo, como estão as implantações de novas tecnologias, as condições de trabalho de equipes de saúde da família e o acompanhamento dos pacientes da região”, exemplifica Machado.
O Nescon é o primeiro da série de reportagens “Janelas: da Universidade para a comunidade”. Nos próximos meses, a série irá trazer exemplos de projetos de pesquisa, ensino e extensão da Faculdade que, assim como os demais, contribuem para o desenvolvimento da sociedade. Os publicações serão mensais e podem ser conferidas na página da Faculdade de Medicina.