O trabalho analisou a correspondência entre os resultados dos exames do Papanicolaou e as biópsias de colo uterino realizados em Uberlândia, Minas Gerais
Em seu Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família (CEESF), o médico Bruno Dornelas verificou falhas no processo de rastreamento do câncer de colo uterino. Dos 137 exames de Papanicolaou realizados entre janeiro de 2011 e outubro de 2012 na cidade de Uberlândia (MG), que tiveram seguimento com algum método de biópsia do colo uterino, apenas 47,4% casos se classificaram como concordantes.
“Os resultados do trabalho são importantes porque alertam sobre possíveis falhas no rastreamento do câncer do colo uterino que quando detectado em tempo hábil é passível de cura”, explica Dornelas. A relevância do estudo também está associada ao fato deste tipo de câncer ser o terceiro mais frequente na população feminina do Brasil, causando 4.800 mortes anualmente, de acordo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). De acordo com o médico, uma discordância diagnóstica em mais da metade dos casos pode indicar, por exemplo, equívocos na leitura dos exames e gerar falhas no processo de rastreamento do câncer do colo uterino.
Em seu trabalho, Bruno ainda faz a ressalva de que o exame de citologia oncótica cérvico-vaginal, conhecido como Papanicolaou, é a principal ferramenta de combate ao câncer do colo uterino no Brasil, onde são processados cerca de 12 milhões de exames ao ano pelo SUS.
Discordância Diagnóstica
O médico explica que o resultado propõe a necessidade do permanente controle de qualidade interno e externo dos laboratórios e a educação continuada dos profissionais de saúde para maior sucesso dos programas de rastreamento.
“Infelizmente o exame de Papanicolaou não é perfeito. As Unidades de Monitoramento Externo da Qualidade Citológica (UMEQCs) têm informado uma discrepância de 2,8% nos diagnósticos. E o Instituto Nacional do Câncer cita que a taxa de falso negativo da citologia pode ultrapassar 50%”, afirma Dornelas. Segundo ele, isso significa que a discordância em mais da metade dos resultados também pode corresponder à realidade de outros locais.
“Em síntese, os resultados do trabalho parecem mostrar problemas, mas não apontam para uma relação de causalidade”, relata Bruno. Desta forma, as soluções para os problemas encontrados só poderão ser propostas uma vez conhecidas as causas da baixa discordância diagnóstica entre os exames de rastreamento e de diagnóstico.
Implicações
Para Dornelas os resultados alcançados por este trabalho podem beneficiar diretamente à população alvo de rastreamento para o câncer do colo uterino (mulheres sexualmente ativas com mais de 25 anos de idade) registrada na Unidade Básica de Saúde de interesse. E, possivelmente, beneficiar o SUS ao garantir a eficiência do Programa de Controle do Câncer do Colo do Útero e à população em geral, otimizando a Saúde da Mulher. Mas, para isso é preciso que o estudo seja reproduzido com uma amostragem estatisticamente mais significativa e que se tente identificar as causas da baixa correspondência do Papanicolaou e as biópsias.
Apesar disso, os resultados do trabalho já tiveram algumas consequências como a tomada de ações Unidade Básica de Saúde de Uberlândia. “A equipe de saúde passou a informar e educar mais sobre a infecção pelo HPV, o câncer do colo uterino e a certificar-se que as orientações para a coleta da amostra cervical fossem assimiladas e seguidas pelas mulheres escritas na UBS”, conta Dornelas. “No exercício de minha profissão, médico patologista, pretendo usá-los como incentivo para a atenção de saúde de qualidade e como substrato para outros trabalhos na área”, completou.