Idosos que moram sozinhos estão entre os principais beneficiados pela iniciativa
Notícia publicada no Saúde Informa
Quem nunca se esqueceu de tomar um remédio, o nome de uma pessoa ou o que comeu no dia anterior? Esses tipos de falhas na memória são comuns e podem aparecer em todas as idades. Muitas vezes, são apenas reflexo de cansaço, estresse ou má alimentação, problemas que podem ser amenizados sem, necessariamente, passar pelo uso de medicamentos. Pensando nisso, a médica Gracielli Peron, aluna do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família (Ceesf), propôs, em trabalho de conclusão de curso, grupo para treino da memória aos usuários do SUS.
Segundo Gracielli, essas falhas correspondem a um sério problema de saúde pública. “A capacidade de memorizar rostos, nomes ou fatos é importante para a qualidade de vida e autonomia dos indivíduos”, diz. Ela conta que na unidade básica de saúde onde trabalha, no município rural de Resplendor, em Minas Gerais, um número considerável de usuários relata, diariamente, problemas relacionados à memorização durante as consultas médicas e de enfermagem.
Como alternativa viável para melhorar a capacidade de memória, principalmente a recente, Gracielli iniciou, em 2010, grupo operativo para estímulo da memória, na unidade de saúde do município. A iniciativa foi resultado do plano de intervenção proposto no trabalho de conclusão de curso do Ceesf, defendido em 2012.
O Grupo da Memória, como é conhecido, conta com a participação de usuários com idade superior a 12 anos. O objetivo, de acordo com a médica, é trabalhar com atividades que demandam atenção, concentração, associação, além da observação. “Para isso, utilizamos a música, dramatização, interpretações de textos, cálculo numérico e habilidades interpessoais”, afirma Gracielli.
Perfil
As reuniões são feitas quinzenalmente, com duração de 20 minutos. Os grupos têm no máximo oito pessoas, o que possibilita melhor acompanhamento da evolução dos usuários. “Temos abordado todos os usuários que referem ter dificuldade de memória para fatos recentes, especialmente idosos que residem sozinhos. Esta abordagem é realizada por meio de um convite para que o usuário participe do grupo operativo”, esclarece a médica.
Gracielli conta que as mulheres, geralmente acima dos 40 anos, são as que mais se queixam, apesar de o problema estar presente em todas as faixas etárias. “Acredito que a predominância desse grupo está relacionada à sobrecarga das atividades diárias, bem como a preocupação das mulheres com os filhos, marido e familiares, o que gera cansaço, estresse e outros problemas que levam a dificuldades na memória”, explica.
Resultados
Independentemente do perfil dos usuários, o Grupo da Memória tem contribuído para a melhora significativa na qualidade de vida dos participantes. “Todos relataram não se esquecer dos horários de tomar os remédios, por exemplo. Tem dado tão certo, que a própria população cobra o funcionamento do grupo”, afirma Gracielli.
A expectativa é que a iniciativa também possibilite, por meio das avaliações periódicas, reunir dados para pesquisas futuras, sob a orientação do Ceesf. “Existem pouco estudos na área com informações mais precisas e específicas sobre a atividade, considerando as implicações que estes déficits representam na qualidade de vida das pessoas”, avalia.