Hipertensão e diabetes são os problemas mais recorrentes nas unidades de saúde onde atuam os profissionais que cursaram o Curso de Especialização em Saúde da Família, ofertado pelo Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), da Faculdade de Medicina da UFMG. A análise, feita a partir dos trabalhos de conclusão de curso, foi publicada em capítulo do livro “Práticas Inovadoras da Rede UNA-SUS: tecnologias e estratégias pedagógicas para a promoção da Educação Permanente”, lançado neste ano, com a participação de pesquisadores do Núcleo.
O capítulo “Perfil dos Trabalhos de Conclusão de Curso em Especialização em Saúde da Família, UFMG, Faculdade de Medicina, Núcleo de Educação em Saúde Coletiva, 2013/2017”, foi redigido à quatro mãos, pelas integrantes da coordenação do curso, Maria Rizoneide Araújo e Matilde Cadete, e os estagiários Guilherme Medeiros e Rafael Ribeiro.
De acordo Maria Rizoneide, o capítulo traz a análise da temática dos trabalhos produzidos de 2013 a 2017 e o perfil dos profissionais que os produziram. Os trabalhos buscam propor soluções para os problemas encontrados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde os alunos atuam e foram publicados na plataforma Phila, que é um sistema de gestão acadêmica dos cursos do Nescon.
A hipertensão e diabetes são os problemas mais recorrentes encontrados nos trabalhos, junto às propostas de intervenção para solução desses problemas. “Os pacientes com hipertensão e diabetes vão mais às unidades para buscar remédios, ao invés de fazer um acompanhamento adequado, o que gera um maior número de consulta e desarticula a agenda de trabalho nas unidades”, pontua Maria Rizoneide.
Os autores também descobriram que a saúde mental vem sendo mais tematizada nos trabalhos, por ser uma demanda crescente nas unidades de saúde. Maria Rizoneide explica que essa demanda se apresenta, majoritariamente, pela briga dos pacientes por receita médica de medicamentos como os benzodiazepínicos, que são os tranquilizantes e os remédios para dormir.
“É um problema que aparece muito nas unidades: a receitinha azul (que caracteriza esse tipo de medicamento). Quando esses profissionais chegam nas unidades têm muita gente já usando esses medicamentos, então eles começam a trabalhar para fazer o que a gente chama de desmame: diminuir e/ou retirar o medicamento”, explica a pesquisadora.
Para os autores, a temática dos trabalhos mostra que os profissionais estão mais preocupados em resolverem problemas do dia a dia, o que dificulta ações de promoção da saúde. “São poucos os que fazem um trabalho de promoção da saúde, de treinamento das pessoas, de capacitação e mudança de concepção no processo de adoecer”, aponta Maria Rizoneide. Ela completa que esses profissionais precisariam ter tempo para conversar com os pacientes e conhecer suas demandas. “Da mesma forma que fazemos com um amigo da gente, conhecendo seus jeitos. É preciso fazer assim na saúde também, para saber como abordar a família”, avalia.
Livro UNA-SUS
A publicação do livro da Rede UNA-SUS é resultado de reuniões realizadas, todos os anos, com as universidades. O objetivo é discutir a educação a distância e problemas estruturais, como o custo dos programas de qualificação. Ao final das reuniões é feita uma carta de compromisso e para a solicitação de recursos para a secretaria executiva da UNA-SUS. Neste ano, a 24ª reunião foi realizada no final de novembro, na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Segundo Maria Rizoneide, desde o primeiro encontro as instituições são estimuladas a relatarem suas experiências e as transformarem em capítulo de livro. “As publicações são importantes porque é uma forma de divulgação do trabalho das universidades envolvidas. No caso do Nescon, isso para nós é muito importante, porque o Núcleo mostra o que ele faz. Isso não só em termos de criar um curso e coordená-lo, mas também o que ele produz e como contribui com as outras universidades parceiras”, conclui.