Nescon, LCC/UFMG e Ministério da Saúde apresentam sistema de informações sobre trabalhadores da saúde

Publicado em Diversos - 18 de outubro de 2011

“Saúde é direito de todos e dever do estado”.  Imortalizada na Constituição Federal de 1988, a frase é de Antônio Sérgio da Silva Arouca (1941-2003), renomado pensador da saúde coletiva no Brasil. Fazer valer o ideal de Arouca é a questão que atualmente se apresenta à saúde brasileira, campo de vastos e complexos desafios.

Um projeto desenvolvido no Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) em parceria com o Laboratório de Ciência da Computação da UFMG (LCC/UFMG) promete ser uma valiosa ferramenta no enfrentamento de um deles: o planejamento de recursos humanos no Sistema Único de Saúde (SUS). Chamada de Plataforma Arouca, a iniciativa – que será apresentada à comunidade acadêmica da Faculdade de Medicina da UFMG no próximo dia 20, às 15 horas, no Nescon – disponibilizará a gestores do SUS e seus trabalhadores um dispositivo capaz de concentrar informações sobre a força de trabalho em saúde no país de forma harmônica, organizada e integrada. A idéia é que a plataforma – elaborada a partir de investimentos da ordem de R$ 10,3 mi do Ministério da Saúde – permita melhor monitoramento e projeção das ações de qualificação profissional desenvolvidas em território nacional.

Múltiplas funções

De fácil uso, a plataforma Arouca é um portal aberto ao cadastro de profissionais de saúde, gestores municipais e estaduais do SUS, diretores de instituições de ensino e de estabelecimentos saúde. Uma vez conectados ao dispositivo, os usuários poderão visualizar a oferta cursos de formação ministrados em todo o Brasil, inclusive por meio do Google Maps. Os cadastrados têm ainda a possibilidade de manifestar demanda por determinada capacitação em sua localidade. Para o coordenador geral do projeto, Vinícius Araújo, com isso, além de facilitar o acesso dos trabalhadores da saúde à capacitação, a plataforma também permite que estados e municípios direcionem melhor suas ações de educação permanente. “Sabe-se, por exemplo, que a maior necessidade de qualificação para a Estratégia de Saúde da Família está na região Nordeste, mas os cursos na área estão concentrados no Sudeste. Ou seja, tem alguma coisa errada. A partir dessa informação, detectável pela Plataforma Arouca, gestores de todas as esferas de governo poderão repensar como estão conduzindo suas ações de educação permanente”, explica.

Outra função disponibilizada pela Arouca é a de construção de um histórico profissional e educacional da mão-de-obra em saúde no país. Trata-se de um instrumento semelhante à Plataforma Lattes, em que o trabalhador poderá registrar suas experiências de trabalho e educacionais – mas seria ainda mais confiável. Segundo o professor Márcio Bunte, coordenador do LCC e responsável pela execução técnica do projeto, a estrutura funcionará integrada a outras fontes de dados já existentes, como o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), sistemas do Conselho Nacional de Residência Médica, de universidades, entre outros. As informações que vão constar na plataforma, assim, poderão ser obtidas de duas maneiras. “A primeira é o próprio profissional contar o que ele fez. A outra maneira, que é a que faz a diferença, é a informação ser fornecida pela própria instituição, que também tem acesso ao sistema e pode alimentar diretamente o histórico do trabalhador. A plataforma pode ainda ir até a base de dados de uma universidade, por exemplo, para buscar informações”, esclarece Bunte. Com isso, o profissional teria à sua disposição um histórico certificado – confiável para quem o emprega e útil para ele próprio, pois terá validade oficial.

Cruzamento de dados

Ao lado da integração com outros bancos informacionais, o portal dispõe ainda de outro recurso: o cruzamento de todas as informações armazenadas. De acordo com o membro da equipe de desenvolvimento da Arouca, Francisco Cardoso, tal característica faz da plataforma uma ferramenta de inteligência para a elaboração de políticas que envolvam a força de trabalho em saúde – capaz de oferecer análises até então inéditas. “Uma delas é para onde vão os egressos das graduações na área de saúde da UFMG. Eu diria que, hoje, é impossível saber isso, declara Cardoso. “Com a adesão da Universidade à Plataforma, os dados do sistema acadêmico poderão ser cruzados com os do Conselho Regional de Medicina e os do CNES, por exemplo. O que tornará possível saber quantos alunos formaram-se médicos de família, quantos de fato atuam em unidades básicas de saúde, quanto tempo permanecem na rede pública, entre outras informações do gênero – de grande valor para o planejamento de recursos humanos no SUS”, avalia.

Acesso

Trabalhadores da saúde de todo o país já podem se cadastrar na Plataforma Arouca pelo http://150.164.2.201/plataformaarouca/Home.app. O lançamento oficial do dispositivo aguarda apenas a migração do sistema para a Base de Dados do Sistema Único de Saúde (DataSus), o que deve acontecer até o fim deste ano.

Ilustração: Adriana Januário