Pesquisadores do Nescon avaliam sobrevida de renais crônicos tratados pelo SUS

Publicado em Notícias - 9 de Abril de 2012

Usuários submetidos à hemodiálise sobreviveram, em média, 2 meses mais que os que fizeram diálise peritoneal

Enquanto esperam por um transplante de rim, as vítimas de doença renal crônica normalmente têm duas opções de tratamento: a hemodiálise e a diálise peritoneal. No primeiro procedimento, realizado por 90% dos brasileiros com insuficiência renal, o sangue é filtrado por meio de uma máquina. Já no segundo, uma solução é introduzida no abdômen da pessoa por meio de um cateter, e assim retira da corrente sanguínea as impurezas que os órgãos comprometidos não foram capazes de retirar.

Um estudo desenvolvido no Nescon analisou a sobrevida de usuários do SUS submetidos a cada uma dessas terapias. Intitulado Sobrevida de pacientes em diálise no SUS no Brasil, o levantamento, realizado como dissertação de mestrado da administradora Daniele Szuster, contou com a orientação das pesquisadoras Mariângela Cherchiglia e Eli Iola Gurgel. Após análise de informações sobre mais de 31 mil pacientes que passaram pela hemodiálise e pela diálise peritoneal entre 2002 e 2003, a conclusão foi a de que, a longo prazo, quem passou pelo primeiro tratamento sobreviveu, em média, dois meses mais que aqueles que optaram pelo segundo.

“Depois de 3 anos de tratamento, o tempo médio de sobrevida dos pacientes que realizavam hemodiálise foi de 26,5 meses, contra 24,2 meses dos que passaram por diálise” explica  Cherchiglia. O maior risco apresentado pelo método peritoneal seria explicado pelo fato de ele ocasionar perda progressiva da função residual dos rins e sobrecarga do peritônio – membrana que cobre as paredes abdominais e parte do diafragma – o que gera complicações como a hipertensão, por exemplo.  “Não existe, porém, um consenso na literatura médica sobre a melhor forma de se tratar a doença renal crônica. A diálise peritoneal geralmente é indicada a crianças e diabéticos, devido à dificuldade de se regular a máquina que realiza a hemodiálise nesses casos”, alerta a pesquisadora.

Só a ponta do Iceberg

O estudo em questão é fruto do Projeto Avaliação Econômica e Epidemiológica das Terapias Renais Substitutivas – TRS, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde (GPES). Iniciado em 2004 com financiamento do Ministério da Saúde, o projeto conta com os trabalhos de uma equipe multidisciplinar de Medicina, Farmácia, Computação, Ciência da Informação, Estatística e Demografia. Durante os 8 anos de existência, já rendeu 10 teses de mestrado e 2 teses de doutorado para pesquisadores.

Os dados levantados pelo projeto contribuirão para embasar a nova Política de Atenção ao Provável Portador de Doença Renal Crônica (DRC), que o GPES, coordenado por Mariângela Cherchiglia, Eli Iola Gurgel e Francisco Acúrcio, ajudará a construir. “Fomos convidados a participar da comissão técnica para a reformulação dessa política. As informações e dados obtidos permitirão traçar um perfil do usuário e propor melhorias no sistema”, explica Mariangela.

SUS e Doença Renal Crônica

Cerca de 89% dos procedimentos de diálise no país são financiados pelo sistema público de saúde, que gasta aproximadamente 1,8 bilhões de reais anualmente com esses pacientes. A cobertura majoritária pelo SUS segue a tendência mundial de financiamento público, já que o tratamento é muito caro (por volta de 30 mil reais anuais).

O desafio da Saúde Brasileira, atualmente, é reduzir a incidência da DRC por meios de cuidados preventivos na Atenção Primária. “A grande maioria dos brasileiros – cerca de 90% – descobre a doença renal no serviço de emergência, quando a sua situação já está bastante comprometida. Se o paciente tiver um bom acompanhamento na Atenção Básica, ele pode postergar e até mesmo não chegar a ter a doença renal crônica”, destaca Cherchiglia.

Para acessar o estudo Sobrevida de pacientes em diálise no SUS no Brasil, clique aqui.