Tese de pesquisadora da Face/UFMG projeta queda das internações pelo SUS em Minas nos próximos 40 anos

Publicado em Diversos - 4 de agosto de 2010

As taxas de internação em hospitais conveniados ao SUS em Minas Gerais deverão cair de 14% a 35% até 2050, considerando os patamares de 2007. Essa é uma das conclusões a que chegou a pesquisadora Cristina Guimarães Rodrigues em sua tese de doutorado recentemente defendida na Faculdade de Ciências Econômicas (Face).

A constatação contraria a hipótese de que as internações tendem a aumentar no futuro. “Ela é decorrente da ênfase dada à pressão do envelhecimento populacional sobre os serviços públicos, uma vez que os idosos são responsáveis pelas maiores taxas de internação e de crescimento populacional”, explica Cristina Guimarães. Segundo ela, isso de fato ocorre quando se avalia apenas o efeito demográfico, como tamanho da população e mudanças na estrutura etária. Se apenas esse componente fosse considerado na análise, o número de internações aumentaria 58% até 2050, tomando 2007 como o ano de partida da projeção.

No entanto, o volume de internações futuras depende da combinação da variável populacional com os índices de internação. Ao acrescentar o comportamento histórico das taxas para calibrar suas estimativas, Cristina acabou chegando a uma tendência oposta. “A curva de internações compensa esse efeito demográfico e mostra uma redução de 14% a 35% no número de internações em 2050”, aponta. A explicação está na queda significativa das taxas nos últimos 17 anos.

“O componente taxa de internação é dado pela junção de fatores difíceis de mensurar, como progresso tecnológico, o efeito do estado de saúde e a regulação da assistência”, afirma a pesquisadora, que, além da queda das taxas de internação, faz uma projeção correlata que pode ser interpretada como uma boa notícia para os gestores do sistema público de saúde: a redução da necessidade de leitos do SUS em Minas Gerais. Segundo as projeções da pesquisadora, ela pode cair, até 2050, de 19% a 38% – dependendo do método de projeção adotado – na comparação com o volume de leitos disponíveis em 2007.

Metodologias

Para desenvolver a pesquisa, ela utilizou três metodologias de análise. A primeira foi a tradicional projeção com taxa fixa. Cristina Guimarães manteve a taxa de internação constante no ano de 2007 e multiplicou o valor pela população projetada para os próximos anos. A conclusão foi de que haveria um aumento de 14% no volume de internações já em 2020.

O segundo método foi a projeção estocásticaMetodologia que leva em consideração o comportamento histórico das taxas para fornecer um cenário mais realista da projeção. Baseia-se em princípio semelhante a uma previsão do tempo, em que a temperatura mantém a tendência dos dias passados, mas pode contemplar uma variação, situada entre a mínima e a máxima. Isso não ocorre com o método determinístico, que projeta uma variação fixa para a taxa, que incorpora a redução dos índices de internação. “A taxa de utilização do serviço possui um componente aleatório, podendo variar de um ano para outro. Por isso, busquei um método que me proporcionasse uma margem de erro associada à projeção”, argumenta. Já a terceira abordagem, o método da regressão, foi usada para analisar fatores que afetam o comportamento das internações. Por meio dessa análise, que permite a comparação com os outros métodos, a pesquisadora descobriu que a variável com mais influência sobre a taxa de internação é o número de leitos.

Ao analisar a evolução das taxas de internação de 1993 a 2007, Cristina descobriu que, nos três primeiros anos da série, houve uma inflexão na tendência de crescimento, provavelmente causada por mudanças institucionais. Entre elas, a definição de cotas de internação. A pesquisadora também aponta o Programa Saúde da Família (PSF) como possível responsável por uma melhora nos indicadores de saúde, principalmente nos últimos anos. “O PSF parte do princípio de que a saúde deve ser cuidada preventivamente. Com isso, reduz-se a necessidade de intervenções mais sérias, já que os problemas são detectados em estágio inicial”, afirma.

Agora, Cristina Guimarães pretende se debruçar sobre os gastos no SUS. Se por um lado o volume de internações vem diminuindo, por outro, os gastos com os procedimentos tendem a crescer. Fatores como atualização tecnológica são apontados pela pesquisadora como possíveis causas desse aumento. “Também quero analisar outros métodos de projeção. É mais uma forma de dar continuidade à pesquisa”, justifica.

Autora: Cristina Guimarães Rodrigues
Tese: Dinâmica demográfica e internações hospitalares: uma visão prospectiva para o Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais, 2007 a 2050
Data de defesa: 24/06/2010
Programa: Pós-graduação em Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas (Face)
Orientadora: Mônica Viegas Andrade
Co-orientadores: Bernardo Lanza Queiroz e Carla Jorge Machado

Fonte: Boletim UFMG, edição 1703

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